Argentino volta a mexer mal em semifinal contra o Racing e time cai de rendimento após substituições. Porém, explicação para o maior jejum do clube desde 1977 vai muito além
É impossível analisar a eliminação do Corinthians para o Racing, na semifinal da Copa Sul-Americana, sem passar pelas escolhas de Ramón Díaz nos dois jogos. Tal qual em Itaquera, no duelo de ida, o treinador mexeu mal e fez com que a equipe caísse de rendimento com suas substituições na derrota por 2 a 1, no El Cilindro.
No primeiro jogo, com a lesão de José Martínez ainda na etapa inicial, ele optou por Romero, perdendo o controle do meio de campo. O erro foi ainda mais grave em Buenos Aires, quando aos 22 minutos do segundo tempo a equipe passou a jogar com quatro atacantes e apenas dois meio-campistas. 11 minutos depois o técnico tentou corrigir o erro, com a entrada de Igor Coronado no lugar de Memphis Depay, que embora cansado era um dos melhores do Corinthians em campo.
Num roteiro repetido da semifinal da Copa do Brasil contra o Flamengo (quando erros de Ramón também ficaram expostos), a equipe chegou a ter mais de 70% de posse de bola, mas não conseguiu ameaçar o adversário. Deu apenas um mísero chute na etapa final.
Impressiona a sequência de decisões equivocadas de Ramón neste momento agudo da temporada. Porém, assim como não se pode ignorar o papel decisivo do argentino nas eliminações recentes, seria injusto, incorreto e improdutivo tratar o treinador como único ou maior vilão do Corinthians.
Ramón ocupa hoje o papel que outrora foi de Vanderlei Luxemburgo, Mano Menezes e tantos outros técnicos que passaram nos últimos anos por este clube extremamente mal gerido.
Qual ideia de jogo buscava o Corinthians quando contratou Ramón Díaz? Era a mesma que tinha quando buscou António Oliveira cinco meses antes? Ou tinha mais semelhanças com Márcio Zanardi, o plano A no começo da temporada?
Não há projeto esportivo – e não é de hoje. Já há algum tempo o clube parece buscar seus treinadores baseado em pressões diversas, que vão desde as redes sociais, passando por conselheiros e torcedores organizados. Procura-se um salvador, um escudo para a diretoria ou o tal “fato novo”, na ânsia de que o técnico consiga corrigir ou mascarar erros da diretoria.
Sim, se Garro tivesse finalizado melhor ou tocado aquela bola para Yuri Alberto, aos 22 minutos do primeiro tempo, a história muito provavelmente seria outra. Ou se Martínez não tivesse dado um carrinho de braços abertos no lance do pênalti, se André Ramalho não tivesse espirrado o taco e cedido o lateral na jogada que originou a virada…
Erros bobos tiraram o Timão da final. Mas não são eles que explicam o maior jejum de títulos do clube desde 1977 e sim a sucessão de problemas administrativos nos últimos anos.
Diante do Racing, a equipe foi a campo com seis titulares contratados na janela do meio ano. No futebol costuma-se recorrer ao jargão do pneu que é trocado com o carro em movimento. No caso do Corinthians de 2024 é diferente: mudaram o motorista, o motor, os amortecedores… e tudo isso em meio a uma pista sinuosa, que ainda tem curvas perigosíssimas em um caminho que pode levar à Série B do Brasileirão.
Antes de um jogo tão importante, a principal notícia do dia tratava da proibição de contratar novos jogadores imposta pela Fifa ao clube, fruto de mais uma dívida, desta vez com o zagueiro Balbuena.
Num contexto de tanta desordem, como limitar o debate pós-eliminação às escolhas de Ramón Díaz? O técnico tem, sim, sua parcela de culpa, mas está longe de ser o maior dos problemas.
A fase decisiva no Campeonato Brasileiro, com um Dérbi já na próxima segunda-feira, impede um debate mais profundo neste momento, mas o clube precisará fazer em breve uma reflexão honesta sobre os problemas que o trouxeram até aqui. O Corinthians ficou para trás das principais forças do futebol brasileiro e não será apenas mudando de técnico que vai deixar essa situação.
Fonte: GE